sexta-feira, 18 de junho de 2010

Censura Musical durante a Ditadura Militar

 Por Luciana Maryllac

Caetano Veloso, nordestino da Bahia, foi um dos artistas exilados na época da ditadura. Era um momento tenso na história do país, mas o músico e compositor lutou por sua liberdade de expressão e transformou-se um ícone da música popular brasileira


        No início da Ditadura, década de 60, o povo respiravam música brasileira, teatro brasileiro, literatura brasileira e cinema brasileiro. O cenário intelectual e artístico - especialmente na música - rumava para uma fase de grande criatividade e qualidade, uma fase que teve como símbolo os festivais de música. Mas o Regime endurecia e forçava aqueles que participavam de produções culturais a tomar posições, assim aconteceu também com a música. Caetano Veloso e Gilberto Gil encabeçavam o Tropicalismo que, segundo o próprio Caetano, o movimento fazia uma exploração estética também do que é feio, enquanto Chico Buarque preferiu ficar com o que é bonito. Num  país que ainda não havia entrado de vez na era da televisão, a música mostrava-se catalisadora do pensamento nacional. Todos sintonizavam seus aparelhos de rádio para ouvir as transmissões de shows, entrevistas, notícias... A relação entre música e história atinge sua maior intensidade nos anos 70, onde a turbulência política é marcante no mundo todo, em particular no Brasil. Muitos músicos foram perseguidos e exilados.
         Chico Buarque conseguiu como poucos fazer oposição ao Regime de forma inteligente, com letras que permitiam várias interpretações e enganavam os censores da época. Mesmo assim, é um dos artistas que mais sofreu com a censura; teve que assinar muitas vezes sob o pseudônimo Julinho de Adelaide. Suas músicas brotaram do meio da rua e do meio do 
povo. 
          Em 1970, compôs a mais famosa de suas obras "Apesar de você", uma crítica ao governo. Depois de vendidas 100 mil cópias, a música foi censurada, todos os discos retirados das lojas e até a gravadora foi fechada. Era considerada um tipo de hino contra a ditadura. Todo o público tinha certeza que "você", na letra da música, era uma referência ao presidente militar do país. Caetano Veloso foi expulso do próprio país. Exilado em Londres, recebeu em janeiro de 1971 uma permissão para passar um mês no Brasil. No Rio, é praticamente seqüestrado pelos militares, e durante um interrogatório, lhe pedem que componha uma canção elogiando   a rodovia Transamazônica, em construção projeto que nunca seria concluído. Evidentemente, Caetano não atenderia a este pedido do governo mais ditatorial do regime militar. Entretanto, coincidência  ou  não, seu segundo LP lançado em  “inglês” foi denomina-o Transa. Uma ironia, talvez, com a Transamazônica? Ao mesmo tempo, Roberto Carlos fazia sucesso com a música “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, homenagem a Caetano Veloso no exílio. Foi um período de guerra, quem quisesse sobreviver precisava 'calar' seus pensamentos e ideais. Viver numa sociedade marcada pela repressão.
 

Revista RegiãoCult - Edição nº01 - 10 de Junho de 2010